Depois de um inédito Campeonato do Mundo realizado a meio da temporada, houve um hiato de cerca de três meses dos trabalhos das seleções nacionais, com todas as atenções dos adeptos do futebol a concentrarem-se nos clubes.

Mas agora, os desafios das seleções nacionais estão de regresso, com destaque, do ponto de vista português, para a estreia de Roberto Martínez como selecionador nacional. Na quinta-feira, 23 de março, Portugal recebe no Estádio José Alvalade o Liechtenstein, em jogo da primeira jornada da qualificação para o Campeonato da Europa de 2024, jogando no domingo, 26 de março, em casa do Luxemburgo, em partida da segunda ronda. A equipa das quinas é super favorita diante do Liechtenstein, de acordo com as odds do site da Betano.pt., sendo que as odds para o encontro com o Luxemburgo só estarão disponíveis depois do jogo da primeira jornada.

Nos outros encontros desta jornada dupla, destacamos ainda o Itália-Inglaterra, na quinta-feira, dia 23, e o França-Países Baixos, na sexta-feira, dia 24, uma vez que se constituem, claramente, como os “jogos grandes” deste início de qualificação. No Itália-Inglaterra, estamos em presença de um dos encontros destas duas jornadas com as odds da Betano mais equilibradas (são praticamente iguais para as vitórias das duas equipas), enquanto no França-Países Baixos o favoritismo indiscutível é da formação da casa.

Portugal-Liechtenstein (23/03, 19h45)

Depois de ter caído nos quartos de final do Campeonato do Mundo aos pés do surpreendente Marrocos, Portugal estreia-se nesta fase de qualificação para o Campeonato da Europa  diante de uma das mais frágeis seleções europeias. Pelo menos no plano teórico, Roberto Martínez não poderia desejar início mais cómodo.

Refira-se que deste grupo J fazem ainda parte Liechtenstein, Eslováquia, Bósnia-Herzegovina e Islândia. Na primeira ronda, a Bósnia-Herzegovina recebe a Islândia e a Eslováquia o Luxemburgo.

Roberto Martínez fez poucas alterações relativamente à lista que foi elaborada por Fernando Santos para o Campeonato do Mundo do Catar, tendo saído William Carvalho, Ricardo Horta e André Silva e entrado Diogo Leite, Gonçalo Inácio e Diogo Jota. O jogador do Union Berlin é uma estreia absoluta na Seleção Nacional A, enquanto o central do Sporting foi chamado pela terceira vez, mas ainda não conta com qualquer internacionalização. Já o avançado do Liverpool FC é uma presença habitual no grupo, tendo falhado o último Campeonato do Mundo devido a lesão.

Havia a expetativa a respeito das chamadas de Pepe e Cristiano Ronaldo, mas Roberto Martínez optou por chamar os dois veteranos. No entanto, o central do FC Porto acabou por ser dispensado, devido a lesão. “Se cheguei a ponderar não chamar Pepe e Cristiano? Não. É importante para os jovens que estão nesta convocatória aprenderem com os mais experientes. Não acho a idade um fator importante neste momento”, sublinhou o selecionador nacional.

Como se esperava, Rafa Silva ficou de fora, mas Martínez reconheceu que tentou fazer regressar o avançado do Benfica. “O Rafa é fantástico. Tentei falar com ele, mas ele acredita que o seu tempo na seleção terminou. Temos de respeitar essa opinião de um jogador com muita experiência”, disse. Por outro lado, futebolistas como Florentino e Pedro Gonçalves, que atravessam excelente momento de forma, ficaram de fora.

O esquema tático a apresentar por Roberto Martínez será um dos principais motivos de curiosidade para este desafio com o Liechtenstein, sendo de recordar que enquanto selecionador da Bélgica, chegou a alinhar muitas vezes com três centrais. E pode ser um indicador o facto de terem sido chamados cinco centrais de raiz (Pepe, Rúben Dias, António Silva, Diogo Leite e Gonçalo Inácio) e ainda Danilo Pereira, que nos últimos tempos tem jogado muito mais nessa posição do que como médio defensivo.

Em Alvalade, o Liechtenstein ainda será orientado pelo austríaco Rene Pauritsch, apesar de, já em março, ter  anunciado o abandono do cargo, para comandar o Vaduz FC. O austríaco continuará a comandar a seleção durante as duas primeiras jornadas do apuramento.

Portugal defrontou o Liechtenstein em sete ocasiões, tendo ganho por seis vezes e empatado uma vez. Este último (surpreendente) resultado ocorreu em Vaduz, capital deste Principado, na qualificação para o Campeonato do Mundo de 2006. Mas não fez grande mossa, pois Portugal conseguiu a qualificação e depois até conseguiu fazer o seu segundo melhor Campeonato do Mundo de sempre, terminando em quatro lugar. Melhor só o terceiro posto de 1966.

Irá Cristiano Ronaldo ser titular com o Liechtenstein e com o Luxemburgo? Ou apenas num jogo? Ou será que vai ser suplente em ambos? Independentemente do que venham a ser as escolhas de Roberto Martínez, parecem ser dois adversários indicados para CR7 reforçar o estatuto de melhor marcador de sempre em seleções nacionais (soma 118 golos em 196 internacionalizações). Curiosamente, não marcou nos dois desafios que realizou frente ao Liechtenstein, mas fez uma assistência no já referido empate a duas bolas e outro passe para golo no triunfo em casa por 2-1, também na qualificação para o Campeonato do Mundo de 2006.

Luxemburgo-Portugal (26/03, 19h45)

Se Cristiano Ronaldo nunca marcou ao Liechtenstein, o caso muda de figura quando analisamos o Luxemburgo, adversário que defrontou muito mais vezes (em dez ocasiões), com nove golos apontados e uma assistência realizada. E o encontro que lhe traz melhores recordações é o último, realizado em outubro de 2021, na qualificação para o Campeonato do Mundo do Catar: Portugal ganhou por 5-0 e ele fez um “hat-trick”, com os outros golos a serem apontados por Bruno Fernandes e João Palhinha.

Foram 19 as ocasiões em que Portugal jogou diante do Luxemburgo, tendo ganho 17, empatado um e perdido outro. As exceções nesta caminhada triunfal ocorreram no longínquo ano de 1961 (derrota no Luxemburgo por 2-4, na qualificação para o Campeonato do Mundo de 1962) e empate em 1991, a duas bolas, igualmente no grão-ducado, em desafio de caráter particular.

Os luxemburgueses têm sido um cliente assíduo de Portugal nas últimas qualificações para as grandes competições. Defrontaram-se em quatro fases de qualificação no século XXI, com saldo 100 por cento vitorioso para as cores nacionais e um saldo de 29-2 em golos. A maior vitória foi um 6-0 em setembro de 2005, partida realizada em Portugal, seguida por três “chapas” de 5 golos sem resposta, em 2004 (fora), 2011 (casa) e 2021 (casa).

De referir que na convocatória do Luxemburgo para os dois primeiros jogos da fase de qualificação – antes de defrontarem Portugal joga com a Eslováquia, fora de casa, no dia 23 de março – faz parte um guarda-redes lusodescendente de apenas 16 anos, chamado Tiago Pereira, que joga na formação do Borussia Mönchengladbach e já representou as seleções jovens do Luxemburgo. Na lista de 24 jogadores há mais dois lusodescendentes: o defesa Mica Pinto, que cumpriu boa parte da formação no Sporting e o avançado Gerson Rodrigues. Os outros dois desafios da segunda ronda do grupo de Portugal são o Liechtenstein-Islândia e o Eslováquia-Bósnia-Herzegovina.

Itália-Inglaterra (23/03, 19h45)

Grande jogo em perspetiva no Grupo C entre Itália, que falhou a presença no último Campeonato do Mundo mas é a campeã europeia em título e Inglaterra, que tem vindo a melhorar a cada fase final de uma grande competição, estando a “ameaçar” a conquista de um título, que lhe escapa desde o Campeonato do Mundo de 1966 (nunca ganhou um Campeonato da Europa). No último Campeonato do Mundo do Catar foi eliminada por França nos quartos de final, ao perder por 1-2, num dos melhores jogos do torneio.

Roberto Mancini apresentou uma grande novidade nos convocados da “squadra azzurra”, com a chamada do italo-argentino Mateo Retegui, ponta de lança que pertence ao Boca Juniors e está emprestado ao Tigre, da Argentina. Este avançado de 23 anos é o melhor marcador do campeonato argentino, com 6 golos e já na temporada transata tinha sido o artilheiro, com um total de 19 golos.

Retegui nasceu na Argentina, cumpriu boa parte da formação no River Plate e depois mudou-se para o grande rival Boca Juniors. Nos “xeneizes” realizou apenas uma partida na equipa principal e foi sucessivamente emprestado a Estudiantes, em 2019 e 2020 (5 golos em 29 jogos), Talleres, em 2020 e 2021 (7 golos em 71 jogos) e Tigre (29 golos em 51 encontros). 

“O rapaz joga como titular no campeonato argentino há dois anos e tem qualidades que nós não tínhamos no ataque. Pensávamos que ele não queria vir, mas quando lhe ligámos disse logo que si”, revelou Mancini.

Já Gareth Southgate operou quatro mudanças nos convocados de Inglaterra, comparando com o Campeonato do Mundo. Três foram no setor defensivo, com Trent Alexander-Arnold, Conor Coady e Ben White a serem substituídos por Ben Chilwell, Marc Guehi e Reece James. No meio-campo, Callum Wilson foi rendido por James Maddison. 

Itália e Inglaterra defrontaram-se por 30 vezes, com ligeira superioridade da “squadra azzurra”, que venceu 11 partidas, contra oito triunfos britânicos e 11 empates. Nos 13 desafios disputados em território italiano, houve cinco vitórias dos visitados, cinco empates e três triunfos dos visitantes.

França-Países Baixos (24/03, 19h45)

Depois de terem sido duas das seleções em maior destaque no Campeonato do Mundo do Catar, França e Países Baixos têm encontro marcado na primeira ronda da qualificação para o Campeonato da Europa de 2024. Recorde-se que os “bleus” foram finalistas vencidos na competição, perdendo nas grandes penalidades com a Argentina, enquanto a “laranja” tinha sido igualmente afastada pela formação de Lionel Messi nos quartos de final e igualmente na decisão da marca dos 11 metros.

Didier Deschamps apresenta três estreantes nos convocados de França: Brice Samba, guarda-redes do Lens, Wesley Fofana, central do Chelsea e Khéphren Thuram, irmão de Marcus Thuram, que também foi chamado. Ousmane Dembelé, lesionado, foi substituído por Moussa Diaby. Outra novidade é o facto de Eduardo Camavinga, médio do Real Madrid, estar em vias de ser utilizado na equipa nacional como lateral-esquerdo, como avançou o próprio selecionador nacional. “Ele tem uma polivalência interessante e para estes jogos [depois dos Países Baixos a França defronta a Irlanda] dá-me mais garantias nesta posição. Não vai estranhar, pois já tive conversas com ele sobre isto”, revelou.

Quem ficou de fora, como se esperava, foi Benzema, depois das polémicas que têm envolvido o avançado e o selecionador francês, com Deschamps a acusá-lo de se ter ido embora do grupo, por livre vontade, antes do início do Campeonato do Mundo. De acordo com Deschamps, o acordado era que ele ficasse, recuperando da lesão durante o Mundial, de modo a ainda poder ser opção, com o atacante a responder nas redes sociais, acusando o treinador de “mentiroso”.

Ronald Koeman regressa ao cargo de selecionador dos Países Baixos (cargo que ocupara entre 2018 e 2019) com cinco estreantes na sua lista de eleitos: Lutsharel Geertruida e Mats Wieffer (defesa e médio, respetivamente, ambos do Feynoord), Bart Verbruggen (guarda-redes do Anderlecht), Sven Botman (defesa do Newcastle) e Brian Brobbey (avançado do Ajax).
A história mostra enorme equilíbrio nos confrontos entre França e Países Baixos, com 13 vitórias dos “bleus”, 11 da “laranja” e quatro empates. A jogar em casa, França logrou sete vitórias, consentindo três derrotas e dois empates.

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