Quando a bola subir no centro do Paycom Center, na madrugada de 5 para 6 de junho, começa um duelo improvável: Oklahoma City Thunder e Indiana Pacers chegam com tudo a provar na 78.ª edição das Finais da NBA, competição que podes acompanhar no site Betano.pt, onde também tens a oportunidade de fazer as tuas apostas e assistir aos jogos em direto através do Livestream.

De um lado, uma equipa construída desde a raiz para este momento, liderada pelo recém-coroado MVP, Shai Gilgeous-Alexander. Do outro, um coletivo guiado por um génio da criação ofensiva, Tyrese Haliburton, que transformou uma época irregular numa sequência de momentos icónicos nos playoffs. Duas equipas vindas de mercados discretos, mas que colocam a mesma pergunta em cima da mesa: quem inaugura a nova era da liga norte-americana?

Os Pacers chegam como surpresa, mas não por acaso. Terão de roçar a perfeição para contrariar o favoritismo dos Thunder, que venceram os dois confrontos diretos na fase regular. Rick Carlisle descreve esta caminhada como uma “viagem mágica”, e Haliburton mantém-se como o maestro de uma equipa que continua a fazer o improvável parecer inevitável. Há até quem veja nele um eco longínquo de Dirk Nowitzki em 2011, outro improvável herói de playoffs que, com Carlisle no banco, reescreveu a narrativa dominante.

Mas esta final vai muito além da geografia ou do tamanho dos mercados. É, acima de tudo, um embate entre formas distintas de jogar e vencer: a defesa sufocante dos Thunder contra a criatividade ofensiva dos Pacers. Oklahoma City chega com uma identidade bem definida, sustentada pela versatilidade e pelo rigor defensivo – Lu Dort e Jalen Williams foram distinguidos nas equipas All-Defensive, enquanto Chet Holmgren, Alex Caruso e Cason Wallace têm sido pedras-chave nos momentos de maior exigência. Indiana responde com Haliburton no comando: acelera, pausa, vê o que mais ninguém vê e alimenta um ataque que vive da fluidez e da leitura coletiva. O equilíbrio da série pode muito bem depender deste duelo conceptual: contenção contra improviso, estrutura contra imaginação.

De promissora a dominante: a ascensão inevitável de OKC

Os Thunder chegaram até aqui com autoridade. Depois de uma fase regular histórica, com 68 vitórias e o melhor diferencial de pontos de sempre (+12.9), ultrapassaram Memphis Grizzlies, Denver Nuggets e Minnesota Timberwolves com uma combinação de intensidade defensiva, profundidade e a genialidade de Shai. Foram 11 jogos com 30 ou mais pontos, igualando Kevin Durant como o máximo na história da organização em playoffs. Em cinco desses jogos, SGA foi também o líder em roubos e/ou desarmes de lançamento, uma raridade estatística que o coloca num pódio onde apenas Michael Jordan, LeBron James e Dwyane Wade estiveram: médias de 30+ pontos, 1.5+ roubos e 1+ abafo numa só campanha de playoffs.

Mas se o base canadiano é o motor, a defesa coletiva é a identidade. OKC lidera os playoffs em eficiência defensiva (104.7 pontos sofridos por cada 100 posses de bola) e turnovers forçados (18 por jogo), o que lhes dá uma média absurda de 23.8 pontos em transição por encontro. Forçam erros até a equipas que não costumam errar, como os Nuggets, e respondem com contra-ataques letais. Esta pressão constante tem efeito mesmo contra equipas que cuidam bem da bola e aí reside um dos grandes choques desta final: os Pacers têm a terceira menor taxa de turnovers da liga. Uma força terá de ceder.

Chet Holmgren tem sido o pilar interior, com dois desarmes de média e uma presença dissuasora notável. Jalen Williams (24.5 pontos por jogo nas finais do Oeste) foi All-NBA e afirma-se cada vez mais como o parceiro ideal de Shai. Lu Dort, Alex Caruso e Cason Wallace são armas defensivas de elite no perímetro. Isaiah Hartenstein oferece peso e versatilidade no interior. A equipa mais jovem em finais desde os Portland Trail Blazers de 1977 parece, em cada jogo, mais velha e mais madura do que devia.

Do caos à consistência: a reinvenção de Indiana

No dia 31 de dezembro, os Pacers desperdiçaram uma vantagem de 19 pontos frente aos Bucks e caíram para 16-18. Em vez de se afundarem, reagiram. A partir de janeiro, arrancaram para um registo de 34-14, chegaram ao quarto lugar da conferência Este e iniciaram uma caminhada de playoffs memorável: eliminaram Milwaukee em cinco jogos (com Tyrese Haliburton a selar o jogo 5 com uma bandeja no último segundo), despacharam os Cleveland Cavaliers com uma reviravolta de 19 pontos e venceram os New York Knicks em seis partidas.

Pelo caminho, quatro recuperações de desvantagens superiores a 17 pontos – a maior marca da era play-by-play – e três vitórias no clutch com cestos decisivos do base. No total: sete triunfos e apenas um desaire em jogos decididos por cinco ou menos pontos. Tudo isto sustentado por uma eficiência ofensiva notável: 49.7% de eficácia nos lançamentos de campo e 40.1% nos triplos.

Haliburton, líder em passes totais nos playoffs (mais de 1200), tem sido o grande catalisador deste sucesso: menos volume individual, mais leitura e impacto coletivo. E quando foi preciso resolver, também o fez: 38 triplos convertidos, 6.ª melhor marca da pós-temporada. A sua parceria com Pascal Siakam, especialmente em situações de transição e de bloqueio direto no 5×5 em maio campo, elevou o ataque dos Pacers a um novo patamar. O camaronês foi mesmo eleito MVP das finais de conferência.

Matchups que podem decidir tudo

Apesar da juventude das duas equipas, esta série promete um xadrez tático fascinante. E há duelos individuais que podem desequilibrar tudo.

O mais decisivo pode ser Lu Dort vs. Tyrese Haliburton. Segundo dados da GeniusIQ, Haliburton tem a menor taxa de lançamento contra qualquer defensor da liga quando é marcado por Dort: em 122 posses diretas nas últimas duas épocas, tentou apenas 10 lançamentos e somou 8 pontos. São números que dizem muito. Indicam respeito – ou desconforto – e podem forçar Rick Carlisle a mexer cedo na estrutura ofensiva, para libertar Hali com bloqueios longe da bola antes de ser envolvido na ação ofensiva.

Outro ponto crítico será o duelo interior, onde Oklahoma City parece ter vantagem. Chet Holmgren, que não defrontou os Pacers na fase regular, tem sido uma presença disruptiva nos playoffs, quer na proteção do cesto, quer na luta das tabelas. Ao lado dele, Isaiah Hartenstein reforça essa presença física com capacidade para chegar aos dois dígitos nos ressaltos em qualquer jogo. Em contraste, Myles Turner continua a ser um poste mais eficaz a lançar do que a competir fisicamente nas zonas próximas do cesto e, como Indiana não tem um suplente dominante que possa aliviar essa pressão, o esforço recai, muitas vezes, em Pascal Siakam, que lidera a equipa em ressaltos… com uns modestos 5.8 por jogo. Para os Pacers, igualar a energia e a fisicalidade dos Thunder no pintado será uma batalha dentro da batalha.

Também o estilo de jogo coletivo promete fogo de artifício. Ambas as equipas vivem bem em ritmo elevado: os Thunder apresentam o 2.º ritmo mais alto dos playoffs (100.6 posses/jogo), com os Pacers logo atrás (98.4). E em transição, poucas equipas são tão letais – Indiana lidera em diferencial de pontos nesse capítulo (+8.5, segundo a Synergy), com OKC muito perto (+8.1). A questão não é só quem corre mais, mas quem consegue manter o controlo enquanto corre.

Será a criatividade de Haliburton suficiente para resolver o quebra-cabeças defensivo dos Thunder? Shai continuará imparável, ou Aaron Nesmith e Andrew Nembhard encontrarão forma de o travar sem se afundarem em faltas? A frieza dos Pacers nos jogos apertados resistirá à equipa que já venceu por mais de 30 pontos em quatro jogos destes playoffs? E quem dominará a área pintada?

Respostas a partir de quinta-feira, em Oklahoma City.

Por Ricardo Brito Reis

Comentador de NBA na Sport TV
Fundador do Borracha Laranja
Host do podcast Bola ao Ar