Grandes jogadores que têm maravilhado os adeptos do futebol preparam-se para fazer o seu último Campeonato da Europa. Evidentemente que algum pode surpreender e “fazer de Roger Milla”, antigo avançado camaronês que aos 42 anos defendeu a sua seleção no Mundial dos Estados Unidos, em 1994. No entanto, em princípio, este será mesmo o último Euro em que vamos poder deliciar-nos com as dez grandes estrelas que apresentamos em baixo. E que certamente tudo irão fazer para liderar as suas seleções à vitória final ou, pelo menos, a uma prova meritória.
Enquanto alguns destes dez ilustres representantes conservam as suas qualidades praticamente intactas, em outros nota-se mais o peso da idade, mesmo que conservem importante estatuto nas respetivas equipas nacionais. Refira-se que nesta lista de fantásticos intérpretes do desporto-rei constam dois portugueses.
Gareth Bale (90 internacionalizações/33 golos) completa 32 anos em julho e o seu histórico de lesões faz acreditar que já não estará presente no Campeonato da Europa de 2024. Grande referência da seleção do País de Gales, liderou a sua equipa de forma brilhante no Euro 2016, torneio em que caíram apenas nas meias-finais, aos pés de Portugal (0-2). E com grande influência de Cristiano Ronaldo, na altura colega de Bale no Real Madrid e que inaugurou o marcador com fulgurante cabeceamento.
Desde então muito mudou e o galês defende atualmente as cores do Tottenham, num regresso a casa muito saudado pelos adeptos, mas com pouca correspondência dentro de campo, em face do seu fraco rendimento. Ou seja, o que não mudou é a maior influência de Bale na equipa nacional em comparação com o rendimento que apresenta nos clubes. Algo a confirmar nas próximas semanas.
Karim Benzema (81 internacionalizações/27 golos) foi a grande novidade na lista de eleitos de Didier Deschamps para o Euro 2020. A ausência nos últimos cinco anos e meio deveu-se a suspeitas de ter estado envolvido no caso de extorsão ao seu compatriota Mathieu Valbuena.
Do ponto de vista estritamente desportivo, sem dúvida que o ponta de lança do Real Madrid justifica a chamada à equipa nacional. Realizou excelente época ao serviço do Real Madrid (30 golos em 46 jogos oficiais) e agora vai tentar ter rendimento semelhante ao serviço de França, onde os seus números estão longe de ser fantásticos para um futebolista do seu gabarito, apresentando uma média de 0,33 golos por jogo.
“Estou muito feliz, mas não vou à seleção para tirar o lugar a ninguém. Quero vencer um troféu com a seleção francesa”, afirma o avançado, eleito o melhor francês a atuar no estrangeiro esta temporada pela associação de futebolistas franceses.
Os 28 golos em 66 internacionalizações de Burak Yilmaz são números de respeito, até porque não estamos a falar de uma seleção de topo. O ponta de lança foi uma das maiores figuras do Lille, que esta época sagrou-se o surpreendente campeão francês, “passando a perna” ao superfavorito PSG. Apontou 16 golos em 28 jogos no campeonato e no “jogo do título”, com o Angers, marcou um dos golos no triunfo por 2-1.
O que torna esta história de sucesso ainda mais especial é o facto de 2020/21 ter sido a sua primeira época num campeonato europeu estrangeiro, depois de sempre ter atuado no futebol turco, com uma curta experiência de um ano e meio no futebol chinês, ao serviço do Beijing Guoan. Comum a todas as temporadas os muitos golos marcados: desde 2010/11, nunca teve média de menos de meio golo por jogo
Robert Lewandowski (118 internacionalizações, 66 golos) foi o mais profícuo goleador dos campeonatos europeus esta época, com impressionantes 41 golos em 29 jogos na Bundesliga. Passou assim a ser o recordista de golos marcados no campeonato alemão numa só época, batendo o lendário Gerd Müller por um golo. E ainda conseguiu faturar por cinco vezes em seis partidas na Liga dos Campeões e por duas ocasiões em dois desafios no Mundial de Clubes.
Chega por isso “no ponto” a este Euro, sendo a grande referência de uma seleção polaca que participa na fase final do Campeonato da Europa pela quarta vez consecutiva, depois de nunca ter conseguido a qualificação nas anteriores. E o próprio reconhece o seu grande momento. “Messi e Cristiano Ronaldo estão no topo há muito tempo, mas acho que agora já posso convidá-los para a minha mesa”, atirou, em entrevista recente à “Gazzetta dello Sport”.
Giorgio Chiellini (106 internacionalizações, 8 golos) não tem sete vidas na seleção italiana, mas tem pelo menos duas. Em novembro de 2017, após o empate com a Suécia, que deixou a Itália de fora do Campeonato do Mundo de 2018, renunciou à “squadra azzurra”. No entanto, aceitou voltar em agosto de 2020 e desde então tem sido convocado com regularidade.
O defesa central aposta neste Campeonato da Europa para fazer esquecer uma época menos feliz a nível coletivo e individual. A Juventus terminou a Série A num invulgar quarto lugar e foi eliminada pelo FC Porto nos oitavos de final da Liga dos Campeões. E Chiellini fez apenas 17 jogos no campeonato, em face da concorrência de Leonardo Bonucci e Matthijs de Ligt e dos problemas físicos que o assolaram. A decisão final ainda não foi anunciada, mas a imprensa italiana tem especulado que o defesa central poderá terminar a carreira no final da época.
Thomas Müller (100 internacionalizações, 38 golos) está de regresso à seleção alemã, juntamente com Mats Hummels, defesa central do Borussia Dortmund, integrando a lista de 26 convocados para o Euro 2020, em que será adversário de Portugal no grupo F. O selecionador alemão, Joachim Löw, deixara de convocar ambos em 2018, depois da eliminação na fase de grupos do Mundial e da Liga das Nações.
“Na altura, tomei essa decisão certa porque queríamos renovar o grupo e dar mais oportunidades aos mais jovens. Mas agora decidimos voltar a chamá-los, depois da grande época que fizeram”, justificou Löw. Müller até nem fez muitos golos (11) em nova caminhada triunfal do Bayern Munique na Bundesliga (nono título consecutivo), mas destacou-se pelas astronómicas 21 assistências, muitas delas servidas em bandeja de prata ao inevitável Lewandoswki.
Eden Hazard (106 internacionalizações, 32 golos) pode ter sido ultrapassado por Kevin de Bruyne como a grande estrela da seleção belga, mas continua a ser uma das referências do esquadrão de Roberto Martínez. O médio do Real Madrid é o mais novo a figurar nesta lista de dez futebolistas que devem realizar o último Europeu, mas o seu historial de lesões faz desconfiar da sua presença em 2024.
Esta temporada, somou apenas 896 minutos em jogos oficiais ao serviço dos “merengues”, em 11 partidas como titular e dez como suplente utilizado. E com apenas 4 golos marcados. A 13 de maio foi arrasado por Pedja Mijatovic, antigo avançado do Real Madrid. “Tenho pena dele. Entra em campo e não faz nada de jeito. Não sei se o rapaz pode recuperar a sua velha forma, mas não estou otimista. Dá-me pena porque todos sabemos o que ele era quando estava no Chelsea”, referiu.
Existe a curiosidade para sabermos se Hazard vai assumir papel principal nos “diabos vermelhos” durante este Campeonato da Europa ou se irá essencialmente ser lançado do banco. Muito improvável parece ser a continuidade no Real Madrid em 2021/22, mas convites de grandes clubes parecem não faltar, com Chelsea (o que seria um regresso ao lugar onde foi mais feliz) e AS Roma de José Mourinho à cabeça, de acordo com a imprensa espanhola.
Luka Modric (136 internacionalizações/17 golos) é outro médio do Real Madrid que pode realizar o seu último Euro. Mas é um caso bem distinto de Hazard, pois parece chegar ao torneio na posse de grande parte das suas faculdades. Esta época, somou 48 jogos oficiais pelo Real Madrid, com seis golos apontados.
Modric esteve em plano de enorme destaque nas duas últimas aparições croatas em fases finais de grandes competições. No Euro 2016, liderou a sua equipa numa participação que prometeu grandes feitos – a equipa começou por derrotar Espanha na fase de grupos e com futebol de encher o olho – mas acabaria por cair aos pés de Portugal, nos oitavos de final. No Mundial de 2018, a Croácia atingiu a final, acabando por ser derrotada por França. E Modric foi considerado o melhor jogador do torneio. O experiente médio croata foi ainda notícia recentemente por ter prolongado o contrato com o Real Madrid até 2022, onde se encontra há nove anos e conquistou 17 troféus.
Pepe (113 internacionalizações, 7 golos) vai participar na sua sétima fase final de um Europeu ou Mundial, depois dos Europeus de 2008, 2012 e 2016 e dos Mundiais de 2010, 2014 e 2018. E se já costuma apresentar alto rendimento ao serviço do FC Porto, pela seleção portuguesa tem atingindo um nível ainda mais elevado, principalmente nestas grandes competições.
Aquele que é o defesa mais internacional da história da seleção portuguesa continua para muitos a ser um dos melhores centrais do mundo e promete formar uma dupla de aço com Rúben Dias. Isto apesar dos seus 38 anos serem impossíveis de esconder, como se viu pelas pequenas lesões que foi acumulando esta época ao serviço do seu clube.
Cristiano Ronaldo (173 internacionalizações/103 golos) tinha 19 anos quando participou no Euro 2004, a sua primeira fase final. Poucos imaginariam que ainda iria estar presente em mais quatro Europeus e em quatro Campeonatos do Mundo. E sempre a quebrar recordes. Irá consolidar o estatuto de jogador com mais partidas realizadas em Campeonatos da Europa (soma 21 até ao momento) e será o primeiro a participar em cinco edições. Por outro lado, necessita de apenas um golo para se isolar como melhor marcador da história em fases finais de Europeus, dividindo essa honra com o francês Michel Platini, com nove golos. E quem sabe se não será neste Euro que irá igualar ou ultrapassar Ali Daei como o melhor marcador de sempre em seleções nacionais? Para já, CR7 soma 103 e só está a seis do antigo ponta de lança iraniano.