O fim de semana do Jogo das Estrelas marca sempre o mês de fevereiro na NBA e implica que haja uma pausa de alguns dias no calendário das partidas da fase regular, por isso, é uma excelente oportunidade para se fazer um balanço da temporada até ao momento. Sim, é verdade que a fase regular ainda não acabou, mas numa altura em que faltam, em média, 25 jogos à maioria das equipas, é claro para toda a gente que formações estão acima ou abaixo do esperado. E mesmo aquelas que estão por cima, não podem tirar o pé do acelerador porque ainda está tudo por decidir e qualquer deslize pode ter impacto na classificação final e, consequentemente, no emparelhamento dos playoffs e no respetivo fator casa lá mais para a frente.

Os super candidatos são, afinal, super desilusões

Se há verdade de La Palice no desporto, seja ele qual for, é que não há vencedores antecipados. E se alguém tem dúvidas disto, basta ver o que aconteceu na última temporada da NBA. Apontados como claros favoritos ao título, os Brooklyn Nets e os Los Angeles Lakers nem chegaram à final. O conjunto de Brooklyn caiu nas meias-finais do Este frente aos Milwaukee Bucks (que viriam a ser campeões, 50 anos depois da última conquista), enquanto os Lakers perderam logo na primeira ronda dos playoffs com os Phoenix Suns, a maior surpresa da liga em 2020/2021 e que chegaram à final. 

No arranque desta temporada, Nets e Lakers eram apontados, mais uma vez, como principais favoritos, mas 50 e tal jogos depois, já nem o adepto mais otimista de cada uma das equipas consegue dizer honestamente que os conjuntos estão na linha da frente para arrecadarem os tão cobiçados anéis. A época da formação de Brooklyn ficou marcada desde o início pelo facto de Kyrie Irving, uma das suas principais estrelas, não querer ser vacinado contra a Covid-19. Devido a isso, foi afastado da equipa e só regressou recentemente a jogar, mas apenas nas partidas fora de casa, já que em Nova Iorque há regras mais apertadas para os não-vacinados. 

Mas mesmo sem ele, a equipa vinha dando conta do recado nos primeiros meses da temporada, com Kevin Durant a carregar os Nets às costas e bem secundado por James Harden. Os nova-iorquinos andaram sempre por perto da liderança no Este, mas a lesão de Durant no final de 2021 foi o ponto de viragem nos resultados. Para se ter uma ideia da quebra da equipa, recentemente viveram uma sequência de 11 derrotas consecutivas – até hoje, na história da NBA, nenhuma formação foi campeã averbando mais que seis desaires seguidos na fase regular. 

Para piorar o cenário, Harden foi para os Sixers em fevereiro e em troca os Nets receberam Ben Simmons, que estava em litígio com o conjunto de Filadélfia desde o inicio da temporada, Seth Curry e Andre Drummond. Aquele que era considerado o melhor trio da história da NBA (Durant, Harden e Irving) só disputou lado a lado 16 partidas em duas épocas, com o registo de 13 triunfos e três derrotas. Neste momento, os Nets são oitavos e estão fora dos lugares que garantem acesso direto aos playoffs.

Na Califórnia mora o outro super candidato que afinal é uma super desilusão. Falamos dos Lakers, que desde o primeiro jogo da temporada tem sido alvo de muitas críticas e tarda em estabilizar as exibições e resultados. São nonos no Oeste, com um salto negativo de vitórias e derrotas, e, tal como acontece com os Nets, estão de momento fora de uma vaga que garanta acesso direto à fase a eliminar. Depois do fracasso da última época, os responsáveis da organização apostaram forte na contratação de Russell Westbrook, que trocou os Washington Wizars pelos Lakers. Além do base, Carmelo Anthony (37 anos), Trevor Ariza (36), Dwight Howard (35), DeAndre Jordan (33) foram outros os “velhotes” contratados. Só que as peças não se andam a encaixar bem e as críticas ao estilo de jogo da equipa têm se sucedido. 

A opinião dos comentadores e antigos jogadores é unânime: a equipa foi mal formada e não tem o que é preciso para ser campeã. O principal alvo tem sido Russell Westbrook, que parece ser um corpo estranho na forma de atuar dos Lakers, e cuja saída tem dado azo a muitas conversas e rumores. Além disso, Anthony Davis já esteve lesionado e os postes veteranos Dwight Howard e DeAndre Jordan tanto parecem contar para o treinador Frank Vogel, como de seguida não atuam sequer um segundo. O que tem valido à equipa é a super forma de LeBron James, que aos 37 anos anos parece estar aí para as curvas, mas o astro tem se vindo a queixar de dores num dos joelhos, e falhado alguns encontros por causa disso. Se com ele, os Lakers vivem momentos complicados, se a lesão se agrava, ninguém sabe até onde os californianos podem descer.

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Campeão e vice-campeão na rota de mais uma final?

Os Suns não se apuravam para os playoffs há dez anos, quando na última temporada garantiram um lugar na fase a eliminar da liga e chegaram de forma surpreendente à final. Já os Bucks, que andavam a prometer muito nas épocas mais recentes, mas que falhavam sempre na hora H, procuravam o título que lhes fugia há cinco décadas. Se é verdade que podiam ser nomes pouco mediáticos para uma final da NBA, ninguém pode dizer que tenham desiludido. A formação de Phoenix venceu os dois primeiros encontros, mas os Bucks levaram a melhor nos quatro duelos seguintes e ficaram com os tão cobiçados anéis de campeão.

Esta temporada, Bucks e Suns mantém-se fortes como se esperava e estão na linha da frente nas respetivas conferências para garantirem um lugar na final. Nos Bucks desde 2013, Giannis Antetokounmpo não é só a maior estrela da equipa, como um dos principais basquetebolistas da liga. Em 2016/17, o extremo poste liderou as principais cinco categorias estatísticas da equipa e tornou-se o primeiro jogador na história da NBA a terminar uma época regular no top 20 de todas as cinco principais estatísticas: pontos, ressaltos, assistências, roubos de bola e desarmes de lançamento. Além disto, foi MVP das fases regulares em 2019 e 2020, ano em que foi também eleito o Melhor Jogador Defensivo. Só Michael Jordan e Hakeem Olajuwon tinham conseguido, na mesma temporada, arrecadar os dois prémios. 

Nas últimas temporadas os Bucks têm construído uma equipa competitiva à volta do seu melhor jogador. Khris Middleton e Jrue Holiday são os outros dois jogadores que formam o Big Three da formação de Milwaukee. Mas do outro lado estão uns Suns que são uma verdadeira equipa, com um plantel equilibrado e com várias opções, além de que tem no banco Monty Williams, um dos melhores treinadores da atualidade.

Se nos Bucks o líder é um jogador grande, nos Suns esse papel está a cargo do pequeno base Chris Paul, que aos 36 anos ainda procura o primeiro título de campeão e para isso tem a seu lado mais duas estrelas, Devin Booker e DeAndre Ayton, mas é ele o coração da equipa. Esta época, Chris Paul já conseguiu dois recordes na NBA: é o único basquetebolista a ter no currículo três sequências de 17 ou mais triunfos na carreira – este ano com os Suns, em 2017/18 nos Houston Rockets e com os Los Angeles Clippers em 2012/13 – e tornou-se no primeiro jogador na história da competição a chegar aos 20 mil pontos e 10 mil assistências.  Recentemente as duas formações defrontaram-se no Arizona e os Suns, com o apoio do público, levaram a melhor sobre os campeões, naquele que foi o primeiro confronto desde a final da temporada passada.

Grizzlies e Cavs muito acima do que se esperava

No Este, os Cavs são atualmente quarto classificados, com o mesmo registo dos campeões Bucks, e muito próximos da liderança repartida dos Miami Heat e Chicago Bulls – e à frente de equipas como os Philadelphia 76ers, que na última temporada acabaram em primeiro na fase regular, ou dos Atlanta Hawks, finalista vencido na final de conferência no ano passado, isto só para citar algumas. No Oeste, os  Grizzlies estão no terceiro posto, atrás apenas das duas melhores equipas da atualidade da NBA (Golden State Warriors e Phoenix Suns) e à frente, por exemplo, dos dois conjuntos de Los Angeles, Clippers e Lakers, bem como dos Utah Jazz, que foi a equipa com melhor registo na fase regular da última época.

Em 2020/21, os Cavs foram uma das piores equipas da liga, enquanto a formação de  Memphis acabou a fase regular em nono, o que lhes possibilitou disputarem o play-in. Aí, venceu os San Antonio Spurs e os Golden State Warriors, seguindo desta forma para os playoffs, onde caiu logo na primeira ronda aos pés dos Utah Jazz. Ainda assim, terem chegado tão longe já foi surpreendente.

Os Cavs já tiveram duas sequências de quatro triunfos e uma de seis em dezembro de 2021 e, durante a qual, venceram “apenas” os Bulls, os Miami Heat, candidatos a chegarem longe este ano, e os campeões Milwaukee Bucks.  No caso dos Grizzlies, o melhor momento da época traduziu-se em dez vitórias em 11 encontros, sendo que num desses triunfos cilindraram os Oklahoma City Thunder, por 152,76, naquele que foi o jogo com maior diferença pontual na história da NBA. O curioso é que os Grizzlies viveram este período vitorioso sem o seu melhor jogador, Ja Morant, que esteve de fora devido a lesão. 

O base, que pela primeira vez foi selecionado para o Jogo das Estrelas, tem realizado uma época incrível, com mais de 26 pontos e 6 assistências por jogo. Quem tem estado também muito bem a seu lado é Dillon Brooks e Desmond Bane, com 18 e 17 pontos, respetivamente. Debaixo das tabelas, Steven Adams manda naquilo tudo e tem quase dez ressaltos por partida.

Na formação de Cleveland,  há nove jogadores com pelo menos dez pontos de média por jogo, o que demonstra bem como a equipa joga coletivamente, apesar, claro de ter as suas estrelas, como seja Darius Garland (20 pontos e oito assistências) e Jarret Allen (16 pontos e 11 ressaltos), só para citar os nomes mais fortes.

Bulls e Warriors voltam a sorrir, Knicks e Hawks aquém das expetativas

São duas equipas que dominaram a liga da NBA durante vários anos, em décadas diferentes, mas que tiveram dificuldade em manter-se no topo depois dessa época dourada. No caso dos Chicago Bulls, foram muitos anos fora dos playoffs, já no caso dos Golden State Warriors, lesões graves em jogadores importantes tiraram a equipa da rota das finais e na última temporada caíram no play-in. 

Esta temporada surgem fortes e consistentes e andam sempre a rondar o primeiro lugar das respetivas conferências. Nos Bulls, a contratação de DeMar DeRozan saiu melhor que a encomenda, ou não estivesse o antigo jogador dos San Antonio Spurs a fazer a melhor época da carreira, com média de 28 pontos e, mais do que isso, tem carregado os Bulls às costas na ausência de Zach Levine, a outra estrela da formação e que já perdeu vários encontros por lesão. 

Nos Warriors, Stephen Curry é o homem do leme e viu o amigalhaço Klay Thompson regressar às quadras dois anos depois, devido a duas graves lesões.  Quando a outra estrela da equipa, Draymond Green, estiver disponível, cuidado com eles e certamente terão uma palavra a dizer na luta pelos anéis.

Se os Los Angeles Clippers têm desculpa, já que têm as duas super estrelas no estaleiro há imenso tempo (Kawhi Leonard Paul George), no caso dos New York Knicks e Atlanta Hawks fica difícil perceber como é que duas equipas que surpreenderam na última temporada. e começaram esta supostamente mais fortes, têm estado aquém das expetativas. O conjunto de Nova Iorque é apenas 12º, enquanto os falcões são décimos no Este e estão nos lugares de acesso ao play-in.