O All-Star Weekend da NBA sempre foi uma celebração do talento, criatividade e espetáculo, mas também um reflexo da evolução do próprio jogo. Depois do resultado desastroso do ano passado, a liga aposta em 2025 numa abordagem renovada para revitalizar o evento, que está agendado para este fim de semana, de 14 a 16 de fevereiro, no Chase Center, casa dos Golden State Warriors, em São Francisco. Ainda assim, as memórias dos momentos icónicos do antigamente continuam a moldar a forma como o público e os jogadores encaram o fim de semana das estrelas.
Este ano, o tradicional confronto entre as conferências Este e Oeste foi substituído por um mini-torneio com quatro equipas. Três delas foram formadas por 24 All-Stars, divididos através de um draft conduzido por Shaquille O’Neal, Charles Barkley e Kenny Smith, analistas da TNT e lendas da NBA. A quarta equipa será a vencedora do Rising Stars, com Candace Parker, um dos maiores nomes da história da WNBA, como mentora.
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Cada jogo do torneio será disputado até aos 40 pontos, sem limite de tempo, exceto o relógio dos 24 segundos. Esta abordagem visa recuperar a competitividade perdida nos anos recentes, ao mesmo tempo que reduz o cansaço e o risco de lesões. A equipa vencedora não levará apenas o título simbólico, mas também uma parte do prémio de 1,8 milhões de dólares, com cada jogador da equipa campeã a receber 125 mil dólares.
O que mais chama a atenção é a forma como as equipas foram construídas, cada uma com uma identidade muito própria, sugerindo que esta distribuição de talentos não é fruto do acaso. A equipa “Shaq OGs” inclui veteranos em final de carreira e as superestrelas das últimas duas décadas. LeBron James, Stephen Curry, Kevin Durant, Damian Lillard, James Harden e Kyrie Irving formam o núcleo desta equipa, representando a última geração que dominou a liga. É como se Shaq tivesse decidido homenagear os jogadores que moldaram a NBA no século XXI.
Em contraste, a equipa “Kenny’s Young Stars” é claramente a representação da nova geração. Anthony Edwards, Jalen Brunson, Jalen Williams, Cade Cunningham, Tyler Herro e Evan Mobley simbolizam o futuro da NBA. Kenny Smith apostou numa equipa cheia de energia, composta por jovens estrelas que estão a redefinir a liga e a traçar o rumo para a próxima década.
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A “Chuck’s Global Stars”, liderada por Charles Barkley, reflete a internacionalização do basquetebol. Nikola Jokic, Shai Gilgeous-Alexander, Victor Wembanyama, Pascal Siakam, Alperen Sengun e Karl-Anthony Towns compõem uma equipa rica em talento estrangeiro, apesar da ausência de Giannis Antetokounmpo, que está lesionado. Estas escolhas podem ser vistas como um reflexo do crescimento global da NBA.
Curiosamente, as equipas de Shaq e Barkley estão colocadas em lados opostos do bracket, o que significa que apenas poderão defrontar-se na final do torneio. Esta possibilidade de um confronto EUA vs. Mundo na decisão do All-Star Game seria uma antecipação perfeita para o formato internacional que a NBA parece estar a explorar, algo que o comissário Adam Silver já admitiu estar em cima da mesa para os próximos anos. No entanto, ambas as equipas precisarão de vencer as suas semifinais para que esta “final ideal” aconteça, o que adiciona uma camada extra de interesse e competitividade ao torneio.
Desde que assumiu o cargo de comissário, Adam Silver tem procurado formas de manter o All-Star Game relevante. As tentativas — muitas delas falhadas — incluem o formato de capitães, introduzido em 2018, onde os jogadores mais votados escolhiam as suas equipas num estilo “pick-up game”. Embora inovador, o interesse diminuiu com o tempo, especialmente quando os jogos se tornaram pouco competitivos.
Em 2020, a NBA introduziu o Elam Ending, em que o jogo terminava quando uma equipa atingia um número alvo de pontos, promovendo finais mais emocionantes. O pico deste formato foi em 2020, ainda na ressaca do falecimento de Kobe Bryant, mas a intensidade voltou a diminuir nos anos seguintes. Em 2024, a liga tentou recuperar a nostalgia com o formato tradicional Este vs. Oeste, mas o resultado foi um jogo de pontuação recorde (211-186), onde a defesa foi praticamente inexistente, algo que Silver admitiu ter envergonhado a NBA. Agora, com o torneio de 2025, Silver espera encontrar o equilíbrio entre entretenimento e competição. A diversificação das equipas e a introdução de jogadores do Rising Stars fazem parte desta estratégia para atrair diferentes públicos e criar novas rivalidades.
O Skills Challenge é um dos eventos que, embora menos mediático, oferece um vislumbre das competências técnicas dos jogadores. Este ano, o desafio contará com quatro equipas de dois jogadores: Donovan Mitchell e Evan Mobley (Team Cavs), Chris Paul e Victor Wembanyama (Team Spurs), Draymond Green e Moses Moody (Team Warriors), e os rookies Zaccharie Risacher e Alex Sarr (Team Rooks). A combinação de veteranos experientes com jovens promessas torna o evento dinâmico e imprevisível, refletindo a diversidade de talentos da NBA.
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O Three-Point Contest continua a ser um dos eventos mais populares do All-Star Weekend, conseguindo atrair algumas das maiores estrelas da liga. Ao contrário do concurso de afundanços, que tem oscilado em termos de interesse, o desafio de triplos manteve-se relevante devido à importância do tiro exterior no basquetebol moderno. Este ano, Damian Lillard tenta conquistar o seu terceiro título consecutivo, juntando-se a lendas como Larry Bird e Craig Hodges. O concurso também contará com atiradores de elite como Tyler Herro, Jalen Brunson, Cade Cunningham, Darius Garland e Buddy Hield, que joga em casa. A presença destes jogadores demonstra que o evento continua a ser uma plataforma de prestígio para os melhores atiradores da liga.
O Slam Dunk Contest é um dos momentos mais aguardados do All-Star Weekend, conhecido por transformar jogadores em lendas no passado, mas com menos brilho nos anos mais recentes. Em 1988, Michael Jordan e Dominique Wilkins protagonizaram um duelo memorável, com o icónico afundanço da linha de lance livre de MJ. Em 2000, Vince Carter elevou o concurso a outro nível com afundanços que desafiaram as leis da gravidade e, em 2016, Zach LaVine e Aaron Gordon surpreenderam com um espetáculo de criatividade e atleticismo. Este ano, Mac McClung, jogador da G League, tenta fazer história ao ser o primeiro a vencer três edições consecutivas. McClung enfrenta Stephon Castle (San Antonio Spurs), Matas Buzelis (Chicago Bulls) e Andre Jackson Jr. (Milwaukee Bucks).
O All-Star Game tem sido palco de momentos que transcendem o próprio jogo, com a competitividade como marca registada… no passado. Em 2012, Dwyane Wade cometeu a primeira falta flagrante num All-Star Game, partindo o nariz a Kobe Bryant. O que poderia ter sido um momento de tensão tornou-se uma anedota, com Kobe a afirmar que adorou o sucedido, simbolizando a intensidade que muitos fãs querem ver de volta.
A expulsão do lendário treinador dos Boston Celtics, Red Auerbach, por discutir com os árbitros, é outro exemplo dessa competitividade perdida, mas há mais exemplos. Rick Barry e Bob Cousy são os únicos jogadores a terem sido excluídos por faltas em jogos All-Star, algo impensável nos dias de hoje, onde a defesa quase desapareceu. Em 1962, Wilt Chamberlain jogou 42 dos 48 minutos do All-Star Game, um feito que seria inconcebível atualmente, onde a gestão de minutos é uma prioridade.
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Com todas as mudanças implementadas, a grande questão é se este novo formato é capaz de vingar. Kevin Durant não escondeu o seu desagrado inicial, mas outros jogadores, como Shai Gilgeous-Alexander, estão abertos a dar uma oportunidade ao novo modelo. O sucesso dependerá da vontade dos jogadores em competir a sério, algo pouco expectável, mas que a NBA tem tentado incentivar com prémios monetários e formatos inovadores. Independentemente do resultado, o All-Star Weekend de 2025 promete ser uma combinação de inovação e nostalgia, demonstrando que a NBA continua a reinventar-se para surpreender e entreter fãs em todo o mundo. E talvez este seja o primeiro passo para um formato EUA vs. Mundo, que poderá redefinir o All-Star para as futuras gerações.