Quando pensamos em ligações entre Portugal e a NBA, vem à ideia o nome de Neemias Queta, o gigante do Vale da Amoreira que é o primeiro (e único) português a jogar na liga norte-americana. No entanto, a história do basquetebol português com a NBA é muito mais antiga do que parece à primeira vista. Desde oportunidades perdidas e duelos memoráveis até à presença de lendas em pavilhões nacionais, o nosso País foi tanto palco de talento emergente como destino para campeões consagrados.

Carlos Lisboa: Bater à porta da NBA

Nos anos 80, Carlos Lisboa esteve muito perto de se tornar no primeiro representante de Portugal na NBA. Após brilhar ao serviço do Benfica, o antigo #7 dos “encarnados” recebeu uma proposta para integrar uma equipa da NBA que estava em formação, patrocinada por investidores da América do Sul. Seria um projeto de expansão ambicioso, mas que não avançou devido às complexas exigências para a criação de uma nova equipa na NBA, uma competição que está disponível no site da Betano.pt para fazeres as tuas apostas e acompanhares todos os jogos em direto, através do Livestream.

A carta com a comunicação do fim do projeto foi um golpe duro para a lenda do basquetebol nacional, que acabou por continuar a carreira em Portugal, acumulando títulos e cimentando a sua posição como um dos maiores de sempre. Um dos momentos mais marcantes da carreira de Carlos Lisboa aconteceu em 1987, quando marcou 45 pontos numa vitória sobre o poderoso Partizan de Belgrado em jogo da antiga Taça dos Clubes Campeões Europeus. No jogo do Pavilhão da Luz, Lisboa converteu 10 dos 15 triplos que tentou, superando o anterior recorde do lendário Dražen Petrović (10/16). Esta exibição não só destacou o seu talento a nível europeu, mas também reforçou a ideia de que Lisboa estava preparado para competir no maior palco do basquetebol mundial.

Elie vs. Kukoč em Ovar: Prenúncio de glória

Em 1988, a cidade de Ovar foi palco de um duelo que antecipava grandeza, quando a Ovarense defrontou o KK Jugoplastika para as competições europeias. Pela equipa portuguesa jogava Mario Elie (em destaque na foto principal do artigo). Do outro lado, brilhava um jovem prodígio chamado Toni Kukoč. Nesse jogo, Elie marcou 39 pontos, demonstrando a todos o talento que mais tarde o levaria à melhor liga do planeta. O duelo em Ovar entre Elie e Kukoč foi o prelúdio de duas histórias que se entrelaçariam com anéis de campeão da NBA.

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Depois de brilhar na Europa, Mario Elie encontrou o seu espaço na liga norte-americana. Nos Houston Rockets, onde jogou 5 dos seus 11 anos na NBA, Elie revelou-se fundamental para os títulos de 1994 e 1995. Conhecido pela defesa intensa, precisão nos lançamentos de três pontos e espírito competitivo, ficou eternizado pelo seu icónico “Kiss of Death”, um triplo decisivo contra os Phoenix Suns no Jogo 7 das meias-finais da conferência Oeste, nos playoffs de 1995.

Por sua vez, Toni Kukoč tornou-se uma peça-chave dos Chicago Bulls durante a segunda trilogia de títulos, entre 1996 e 1998. Apelidado de “The Croatian Sensation”, Kukoč trouxe versatilidade à equipa liderada por Michael Jordan e Scottie Pippen, e o seu papel como sexto homem foi crucial para o sucesso dos Bulls. O game-winner contra os New York Knicks nas meias-finais do Este, nos playoffs de 1994, tornou-se um dos momentos mais emblemáticos da sua carreira.

Dominique Wilkins: Provar do próprio veneno em Almada

Na temporada 1995-96, Dominique Wilkins, um dos maiores nomes da história da NBA, surpreendeu o mundo ao juntar-se ao Panathinaikos e, em novembro de 1995, os gregos visitaram o Benfica para um jogo da fase de grupos da Euroliga, no Pavilhão de Almada. Apesar dos 26 pontos do “The Human Highlight Film”, o Benfica venceu por 96-87, com 32 pontos de Carlos Lisboa e um afundanço icónico de Jean-Jacques Conceição… na cara de Dominique.

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O desaire não impediu Wilkins de liderar o Panathinaikos à conquista da Euroliga nessa época, e a classe que sempre foi sua imagem de marca levou-o a ser coroado MVP da Final Four após um triunfo sobre o FC Barcelona na final, por 67-66. A passagem pela Europa provou que ainda tinha muito para dar ao basquetebol mundial – no ano seguinte, Dominique voltou à NBA – e esse jogo em Almada permanece como um dos momentos mais memoráveis do basquetebol português.

Um legado mais rico do que se pensa

Ao longo dos anos, Portugal teve o privilégio de receber vários ex-NBA, que reforçaram equipas lusas em diferentes fases das suas carreiras. Toney Douglas (394 jogos na NBA e atualmente ao serviço do FC Porto), Mark Acres (375) e Corey Benjamin (153) são apenas três dos muitos nomes que chegaram aos pavilhões nacionais com o acrónimo “NBA” no cartão de visita. Estes atletas trouxeram qualidade, experiência e notoriedade à liga portuguesa, reforçando a sua relevância como destino para jogadores de elite.

Do grande “E se…” na carreira de Carlos Lisboa, passando pelo duelo entre Elie e Kukoč em Ovar, à visita da lenda Dominique Wilkins e à passagem de vários ex-jogadores da NBA por clubes nacionais, o basquetebol português mantém uma ligação especial com a melhor liga do mundo, consolidando uma história recheada de momentos únicos e inesquecíveis.

Por Ricardo Brito Reis

Comentador de NBA na Sport TV
Fundador do Borracha Laranja
Host do podcast Bola ao Ar