Chegaram os playoffs da NBA, com a urgência que transforma cada posse de bola em narrativa. Não há mais tempo para testes nem para esconder vulnerabilidades. Cada equipa traz consigo a história de uma época inteira e carrega agora o fardo da expectativa. De um lado, os favoritos que procuram validar o seu estatuto; do outro, os ousados que querem reescrever o guião. Estas oito séries da primeira ronda oferecem uma paisagem da NBA em 2025: talentos geracionais, equipas em reconstrução acelerada, dinastias à procura de sopro final, novas forças que se impõem pelo coletivo, e duelos que desafiam os padrões tradicionais, isto tudo numa competição que podes acompanhar no site Betano.pt, onde tens também a oportunidade de fazer as tuas apostas e assistir aos jogos em direto através do Livestream.

Oklahoma City Thunder vs. Memphis Grizzlies: A evolução e o espelho

Há algo de profundamente simbólico neste duelo entre Oklahoma City Thunder e Memphis Grizzlies: os Thunder são hoje aquilo que os Grizzlies prometeram ser há pouco mais de dois anos. Ambos construíram a partir do zero, apostando no talento jovem, no draft e numa cultura forte, mas os caminhos divergiram. Enquanto Memphis viu promessas adiadas, lesões, suspensões e instabilidade no comando técnico, OKC subiu de patamar. Com 68 vitórias na fase regular, uma identidade tática bem definida e Shai Gilgeous-Alexander a jogar a nível MVP, os Thunder chegam como candidatos legítimos, com um equilíbrio raro entre ataque e defesa e uma profundidade difícil de igualar.

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Ainda assim, os Grizzlies não são uma equipa derrotada à partida. Ja Morant está disponível, e isso muda sempre o contexto: a sua explosividade pode virar jogos, mesmo contra defensores de elite como Lu Dort, Alex Caruso e Cason Wallace. Memphis precisará de encontrar soluções para furar uma defesa coletiva que roda, comunica e antecipa com notável eficácia. O banco dos Thunder, capaz de ir a jogo com dez nomes diferentes sem perder identidade, pode forçar os Grizzlies a decisões desconfortáveis, sobretudo se a série ganhar tendência para desequilíbrios pontuais, como sucedeu várias vezes ao longo da época regular.

No interior, Jaren Jackson Jr. será central para qualquer esperança de equilíbrio. O duelo com Chet Holmgren não é apenas físico ou técnico — é também simbólico da nova vaga de postes móveis, criativos e com alcance de lançamento exterior. Jackson tem mostrado mais iniciativa ofensiva e será vital que mantenha esse registo, tanto para aliviar Morant como para explorar os momentos em que Holmgren se ausenta do jogo interior. Quanto a Zach Edey, o estreante precisa de aguentar o embate físico e não ser exposto em trocas — uma tarefa ingrata contra um ataque como o de OKC, que é implacável a explorar “mismatches”.

Houston Rockets vs. Golden State Warriors: Sangue novo contra sangue frio

De um lado, a irreverência de uma equipa que cresceu rápido demais. Do outro, a experiência acumulada de uma dinastia que se recusa a fechar o ciclo. Os Houston Rockets são uma das grandes histórias da temporada: passaram de 22 vitórias para 52 em dois anos, terminaram a fase regular com um sprint impressionante e chegam com uma identidade física bem vincada, sustentada nos ressaltos ofensivos, na agressividade defensiva e na autoridade imposta por Steven Adams e Alperen Şengün no jogo interior. Do outro lado, os Warriors apresentam uma versão reformulada, com Steph Curry ainda letal, Draymond Green rejuvenescido e Jimmy Butler a oferecer nova dimensão competitiva. Mas a margem de erro estreitou: a idade do núcleo principal e algumas debilidades físicas e emocionais tornam a equipa frágil quando perde o controlo do ritmo dos jogos.

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A chave está na luta pelo número de posses de bola. Houston foi a melhor equipa da liga nesse capítulo, liderando em ressaltos ofensivos e segundas oportunidades, enquanto Golden State tem como tradição valorizar cada posse e atacar com inteligência. Desde a chegada de Butler, os Warriors aumentaram o volume e tornaram-se mais parecidos com os Rockets nesse aspeto, mas com uma diferença fundamental: fazem mais e melhor com menos. O contraste de estilos será acentuado pelo duelo entre Stephen Curry e Amen Thompson, um defensor jovem, físico e disciplinado, que no último confronto limitou o base dos Warriors a um jogo desastroso. A capacidade de Thompson repetir essa exibição sem penalizar o ataque dos Rockets pode ser um fator decisivo.

Ainda assim, Houston enfrenta um problema estrutural: a inconsistência no tiro exterior. Fora Dillon Brooks, nenhum jogador da rotação apresenta números fiáveis de três pontos, o que pode comprometer o espaçamento ofensivo contra uma equipa que protege bem o pintado. Se Fred VanVleet, Jalen Green ou Jabari Smith Jr. não acertarem com regularidade, o ataque dos Rockets poderá colapsar sob a pressão de um adversário experiente. Steve Kerr, por sua vez, tem várias peças para gerir os ritmos da série e encontrar soluções defensivas, mas pode depender da capacidade de Green resistir a provocações e impor a sua vontade. É um confronto marcado pelo choque de estilos e gerações, e com todos os ingredientes para ser uma das séries mais intensas da primeira ronda.

Los Angeles Lakers vs. Minnesota Timberwolves: Estrelas em colisão

A troca de Anthony Davis por Luka Dončić parecia, à partida, uma aposta no futuro. Mas os Lakers estão a descobrir que o futuro pode ser agora. A chegada de Dončić reconfigurou o ataque, aumentou o volume de triplos, redistribuiu protagonismos e reacendeu a chama competitiva de LeBron James. Do outro lado, os Timberwolves chegam embalados, liderados por um Anthony Edwards que irradia confiança e que quer provar que já não é apenas promessa. A memória das finais de conferência do ano passado, onde Luka ainda estava em Dallas, dá um sabor especial ao reencontro.

Os Lakers têm talento e nomes, mas ainda procuram fluidez e equilíbrio. A nova dinâmica ofensiva com Dončić trouxe vantagens claras, mas também desafios defensivos, especialmente para um grupo com idade acumulada e profundidade limitada. Se Luka e LeBron encontrarem sinergia nos momentos certos, o perigo multiplica-se. No entanto, Minnesota é uma das equipas defensivamente mais sólidas da liga, com Jaden McDaniels e Rudy Gobert a garantirem disciplina nesse lado do campo. Julius Randle, figura de rendimento volátil em playoffs, poderá ser uma chave, sobretudo se jogar com controlo e souber tirar partido da rotação interior de LA.

Austin Reaves surge como peça decisiva para os Lakers. A sua capacidade de provocar faltas e castigar desequilíbrios torna-o essencial quando as defesas concentram atenções nas estrelas. Já os Wolves, para manterem o controlo, terão de ser fiéis à sua identidade: defender bem, correr sempre que for possível e confiar na tomada de decisão de Edwards. A consistência emocional será crucial. Se mantiverem a compostura e castigarem os pontos fracos de LA, podem transformar esta série num marco na sua afirmação definitiva.

Denver Nuggets vs. Los Angeles Clippers: Um génio solitário contra a força do coletivo

À primeira vista, parece tudo igual: Nikola Jokić a comandar os Nuggets, os Clippers a chegar aos playoffs com o plantel completo e esperanças renovadas. Mas a tranquilidade é aparente. Denver entra nesta fase com um ambiente instável após a decisão surpreendente de despedir treinador e general manager nos dias finais da época regular. A sucessão por David Adelman pode manter o plano de jogo, mas revela fraturas na liderança. Do outro lado, os Clippers vivem o momento de maior continuidade em anos: Kawhi Leonard saudável, James Harden como cérebro do ataque, e um núcleo defensivo preparado para ajustar-se a qualquer adversário. Esta série opõe a visão singular de Jokić à versatilidade de um coletivo que sabe moldar-se às exigências de cada jogo.

Os Clippers não vão travar Jokić, mas podem condicionar os seus colegas mais influentes. Ivica Zubac terá um papel crucial a proteger o aro, enquanto a mobilidade dos extremos tentará limitar a ação de Jamal Murray, Michael Porter Jr. e Aaron Gordon. Tyronn Lue tem a vantagem da profundidade: pode adaptar-se com diferentes cincos, lançar atiradores ou reforçar a presença interior, acelerar ou controlar o ritmo conforme necessário. Essa elasticidade permite esconder debilidades e reagir a problemas pontuais, algo que falta a Denver, cuja rotação curta e dependência absoluta de Jokić tornam cada falha mais visível e mais difícil de corrigir.

Os Clippers têm ainda uma carta importante: Kawhi Leonard. Chega aos playoffs em excelente forma, com números ofensivos de elite e sinais de recuperação defensiva. Se mantiver o nível recente, será um foco de estabilidade e eficiência nos momentos mais apertados. Denver precisará de uma versão consistente de Jamal Murray e de respostas fiáveis vindas do banco — algo que nem sempre teve ao longo da época. É difícil apostar contra Jokić, mas a organização coletiva e flexibilidade tática dos Clippers preparam-nos para uma série longa e imprevisível.

Cleveland Cavaliers vs. Miami Heat: Disciplina contra improviso

A entrada de Miami nos playoffs foi feita ao estilo de sempre: resistência, superação e fé no sistema de Erik Spoelstra. Mas estes não são os mesmos Heat de outros anos. Jimmy Butler ficou pelo caminho e o que sobra é um conjunto esforçado, valente, mas com muitas limitações, especialmente ofensivas. Cleveland, por sua vez, chega com o melhor registo do Este. A base está consolidada: Jarrett Allen e Evan Mobley garantem proteção da zona pintada, e Darius Garland e Donovan Mitchell assumem o peso criativo, mesmo que de formas diferentes. Mitchell é o símbolo da explosividade e do 1×1, Garland o maestro do jogo coletivo. A equipa encontrou um ponto de equilíbrio entre o talento individual e a coesão defensiva.

A grande vantagem dos Cavaliers nesta série é a consistência estrutural. São mais profundos, mais atléticos, mais organizados. Têm múltiplas formas de atacar, incluindo transição, bloqueios diretos e jogo interior com Mobley ou Allen. E, acima de tudo, têm uma defesa que não dá espaços. Miami precisa que Tyler Herro e Davion Mitchell continuem a fazer milagres — como fizeram no play-in contra Atlanta — mas isso pode não ser sustentável numa série longa. A ausência de Butler deixa o ataque entregue a soluções secundárias: Bam Adebayo pode criar a partir do poste alto, mas a fluidez ofensiva é intermitente e há uma escassez de criadores consistentes no perímetro.

Cleveland vai tentar matar a série à base de consistência. Se Garland controlar o ritmo e Mitchell souber escolher os momentos, a vantagem técnica e tática torna-se quase irreversível. A defesa está montada para reduzir os pontos fortes do adversário: negar triplos fáceis, proteger o aro, contestar sem fazer faltas. A sensação é que Miami terá de recorrer ao improviso com demasiada frequência para conseguir sobreviver. Acontece que o improviso é, há anos, uma das especialidades de Spoelstra. Mas desta vez o fosso de talento e organização parece demasiado largo.

Boston Celtics vs. Orlando Magic: Primeiro teste aos campeões

O embate entre os campeões da NBA e uma das mais promissoras defesas jovens da liga tem tudo para ser um choque de estilos — e talvez também de realidades. Boston chega a estes playoffs com estatuto de favorito absoluto e um sistema de jogo tão consolidado que até as variações táticas mais subtis parecem naturais. A circulação de bola, a eficácia do tiro exterior e a disciplina defensiva compõem uma equipa que obriga o adversário a quase perfeição. Do outro lado está Orlando, que cresce com Paolo Banchero e Franz Wagner, mas ainda procura uma identidade ofensiva consistente e que vive muitas vezes de ações individuais.

O que os Magic fazem bem — proteger o aro, contestar lançamentos, forçar más decisões — pode ser mitigado por uma equipa como Boston, que movimenta a bola melhor do que qualquer outra e tem opções em todas as posições para desequilibrar. O problema para Orlando não está tanto na defesa, mas sim no ataque. São a pior equipa da liga em eficácia de lançamento exterior, e contra os Celtics isso é uma sentença. Joe Mazzulla não terá de inventar muito: basta fechar a área restritiva, confiar nas ajudas e convidar Orlando a lançar de fora. Se o tiro não cair com frequência acima da média, dificilmente haverá forma de competir de igual para igual. A rotação curta e a experiência reduzida em jogos de playoffs também pesam. É uma equipa que tem orgulho em defender, mas que terá de aguentar um bombardeamento prolongado, sem margem de erro do outro lado.

Boston, por seu lado, pode gerir minutos, testar rotações e ainda assim manter o controlo da série. Jayson Tatum chega mais maduro, Kristaps Porziņģis é uma peça que dá equilíbrio a ambos os lados do campo, e Derrick White faz tudo sem pedir protagonismo. Mesmo com a época irregular e as dúvidas sobre o joelho de Jaylen Brown, a máquina está oleada e raramente depende de uma só engrenagem. Orlando vai competir, lutar por cada posse, talvez roubar um jogo se a defesa conseguir secar os Celtics por longos períodos. Mas a diferença de recursos, experiência e profundidade é difícil de contornar, mesmo com todo o coração.

New York Knicks vs. Detroit Pistons: Peso pesado contra talento cru

A temporada dos Knicks tem sido construída sobre pilares simples mas sólidos: intensidade defensiva, posse de bola prolongada, responsabilidade partilhada e uma relação simbiótica entre o Madison Square Garden e o esforço dos jogadores. A chegada de Karl-Anthony Towns acrescentou uma dimensão ofensiva que faltava, permitindo mais versatilidade no ataque. Do outro lado, os Pistons chegam a esta fase como a história bonita do Este — um grupo jovem liderado por Cade Cunningham, com ambição, talento e uma crença que foi crescendo à medida que as vitórias se tornaram mais frequentes. A vitória moral já está alcançada.

Cade é o cérebro e o motor da equipa de Detroit, mas os Knicks conhecem-no bem. Tom Thibodeau não é dado a surpresas: vai colocá-lo constantemente sob pressão, lançar diferentes corpos para cima dele, forçá-lo a tomar decisões difíceis e a provar que consegue ser eficiente durante 48 minutos contra uma equipa experiente nos playoffs. O problema dos Pistons não está só aí. Tobias Harris terá de ser uma presença ofensiva constante, os atiradores terão de estar inspirados, e a equipa como um todo vai ter de resistir à capacidade de desgaste que New York impõe em todos os jogos. A gestão das emoções será essencial para uma equipa sem experiência coletiva a este nível. O Garden transforma cada posse de bola num teste de maturidade.

Nos Knicks, Brunson lidera com inteligência e coragem. Quando tudo encrava, é ele quem resolve. OG Anunoby oferece um equilíbrio raro entre defesa de elite e execução ofensiva sem ruído. Josh Hart traz energia contagiante e leitura de jogo. Thibodeau raramente mexe no plano — até porque os jogadores em quem confia estão habituados a jogar 40 minutos — e isso pode ser uma força ou uma fraqueza, consoante o contexto da série. Mas contra uma equipa jovem, sem referências defensivas estabelecidas e que ainda procura a sua identidade ofensiva, é mais provável que se revele uma força.

Indiana Pacers vs. Milwaukee Bucks: Sem rede para Giannis

O que era para ser um duelo equilibrado entre uma equipa em ascensão e um candidato habituado a estas andanças ganhou contornos diferentes nos últimos meses. A ausência prolongada de Damian Lillard alterou a dinâmica ofensiva dos Bucks e aumentou ainda mais a dependência de Giannis Antetokounmpo, que chega a estes playoffs sem rede. O monstro com duas cabeças tornou-se previsível, e as limitações dos jogadores complementares tornam-se mais evidentes quanto mais alto sobe o nível de exigência. A defesa já não é a muralha de outros anos, e os problemas de comunicação ou falta de urgência surgem com demasiada frequência.

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Indiana, por contraste, joga com alegria e velocidade. É uma equipa que vive da partilha de bola, da imprevisibilidade e da versatilidade dos seus jogadores. Tyrese Haliburton comanda com leveza e criatividade, Pascal Siakam encaixou como se já lá estivesse há muitos anos, e Rick Carlisle tem feito um trabalho exemplar a construir uma identidade ofensiva onde todos tocam na bola e onde o ataque nunca estagna. Myles Turner garante equilíbrio atrás e ameaça exterior, e há múltiplos jogadores capazes de criar e finalizar. Mais do que a soma das partes, os Pacers são um sistema coeso que sabe muito bem o que quer fazer.

A chave da série está na capacidade dos Pacers de obrigar Giannis a fazer tudo — e limitar o que os outros conseguem fazer com ele. Sem Lillard a dividir atenções, será necessário saber viver com o que o grego inevitavelmente conseguirá produzir. Para Milwaukee, a esperança passa por recuperar Lillard rapidamente e encontrar respostas entre jogadores como Kevin Porter Jr. e Bobby Portis. A defesa tem de subir dois ou três patamares, e o ataque precisa urgentemente de diversidade.

Por Ricardo Brito Reis

Comentador de NBA na Sport TV
Fundador do Borracha Laranja
Host do podcast Bola ao Ar